sexta-feira, 12 de julho de 2013

O surgimento da consciência do espaço é o próximo estágio da evolução da nossa espécie.




ESPAÇO INTERIOR
Eckhart Tolle


Quando a consciência não está mais totalmente absorvida pelo pensamento, parte dela permanece no seu estado original, não condicionado, sem forma. Esse é o espaço interior.

A vida da maioria das pessoas é um amontoado desordenado de coisas: itens materiais, tarefas a fazer, questões as quais pensar. Esse tipo de vida se assemelha a história da humanidade, definida por Winston Churchill  “como uma maldita coisa atrás da outra”.

A mente dessas pessoas é ocupada por um emaranhado de pensamentos, um nó após o outro. Essa é a dimensão da consciência dos objetos, que é a realidade predominante de um grande número de indivíduos – e é por isso que a vida deles é tão confusa.

Essa consciência precisa ser equilibrada pela
consciência do espaço para que a sanidade retorne ao nosso planeta e a humanidade cumpra seu destino. O surgimento da consciência do espaço é o próximo estágio da evolução da nossa espécie.

O sentido da consciência do espaço é que, além de estarmos conscientes das coisas – que sempre se resumem a percepções, pensamentos e emoções – existe um estado subjacente de atenção. Isso quer dizer que temos consciência não apenas das coisas (objetos), como também do fato de que estamos conscientes.

É o que ocorre quando somos capazes de sentir um silêncio interior sempre alerta ao fundo enquanto os eventos acontecem no primeiro plano. Essa dimensão está presente em todos nós. No entanto, para a maioria das pessoas, ela passa totalmente despercebida.

Às vezes, eu a aponto da seguinte maneira: “ Você é capaz de sentir sua própria presença ?”

A consciência do espaço representa a liberdade tanto em relação ao ego quanto a dependência das coisas, do materialismo e da materialidade. Ela é a dimensão espiritual que, sozinha, pode dar um significado verdadeiro e transcendente a este mundo.

Quando não estamos mais totalmente identificados com as formas, a consciência – quem nós somos – se vê livre do seu aprisionamento na forma. Essa liberdade é o surgimento do espaço interior. Ele chega como um estado de silêncio e calma, uma paz sutil enraizada dentro de nós, que mesmo diante de algo que parece mau diz – “Isto também passará”.

De repente existe espaço em torno do acontecimento. Há também espaço ao redor dos altos e baixos emocionais, até mesmo da dor. E, acima de tudo, existe espaço entre nossos pensamentos. Desse espaço emana uma paz que não é “desse mundo”, porque este mundo é forma, enquanto a paz é espaço.
Essa é a Paz de Deus.

Agora podemos desfrutar e estimar as coisas e os eventos sem lhes atribuir uma importância que eles não têm. Estamos em condições de participar da dança da criação e de ser ativos sem nos apegar aos resultados e sem impor exigências pouco razoáveis em relação ao mundo, como “satisfaça-me”, “ faça-me feliz”, “faça-me sentir seguro”, “diga-me quem sou”.

O mundo não pode nos dar nada disso e, quando deixamos de ter essas expectativas, todo o sofrimento que nós mesmos criamos chega ao fim.
Toda essa dor se deve à valorização exagerada da forma e à falta de consciência da dimensão do espaço interior.

Quando esta dimensão está presente na nossa vida, podemos aproveitar as coisas, as experiências e os prazeres sensoriais sem nos perdermos neles, sem nos apegarmos internamente a nada disso, isto é, sem nos tornarmos viciados no mundo.

Sempre que a dimensão do espaço se perde, ou não é conhecida, as coisas assumem uma importância absoluta, uma seriedade e um peso que, na verdade elas não têm. Toda vez que o mundo não é visto da perspectiva do que não tem forma, ele se torna um lugar ameaçador e, em última análise, de desespero.

O profeta do Antigo testamento sentiu isso quando escreveu: “ Todas as coisas se afadigam, e mais do que se possa dizer”.

Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo do pensamento. Sem elas, ele se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa – e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam.

Aos poucos elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço da nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas, é criá-las com freqüência para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamentos sejam entremeados com espaços.

Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e produz espaço.

Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo. Veja como o peito e o abdômen se expandem e se contraem ligeiramente quando você inspira e expira.
Basta uma respiração consciente para produzir espaço onde antes havia a sucessão ininterrupta de pensamentos. 

Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços na sua vida. Mesmo que você medite sobre a sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixá-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.

Na verdade, respirar não é algo que fazemos, mas algo que testemunhamos. A respiração acontece por si mesma. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo. Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego – sobretudo no ponto de parada no fim da expiração – antes de começar a inspirar de novo.

Sempre que estamos aborrecidos com algo que ocorreu, com alguém ou com uma situação, a verdadeira causa deste estado de ânimo não é o que aconteceu, nem a pessoa, nem a circunstância
, mas a perda da verdadeira perspectiva que apenas o espaço pode oferecer. Estamos presos a consciência dos objetos, inconscientes do espaço interior atemporal da consciência propriamente dita.

A consciência do espaço tem muito pouco haver com o estado de desorientação. Ambos estão além do nível do pensamento - isso eles tem em comum. A diferença fundamental, contudo, é que, no primeiro caso, nos colocamos acima do nível do pensamento; no segundo, ficamos abaixo dele.
Um é o próximo passo na evolução da consciência humana; o outro, uma regressão a um estágio que superamos eras atrás.

O maior impedimento à descoberta do espaço interior, a principal barreira à descoberta daquele que tem a experiência, é nos tornarmos tão subjugados pela experiência que acabaremos perdidos nela. Isso significa que a consciência esta desorientada em seu próprio sonho. Somos arrebatados por todo pensamento, toda emoção e toda sensação, a tal ponto que, na verdade, nos encontramos num estado de sonambulismo. Essa tem sido a situação normal da humanidade por milhares de anos.

Quando ouvirmos falar de espaço interior, pode ser que comecemos a buscá-lo.
No entanto, se fizermos isso como se estivéssemos procurando um objeto ou uma experiência , não teremos sucesso. Esse é o dilema de todos aqueles que estão tentando alcançar a compreensão espiritual, ou iluminação.

Por isso Jesus disse:
“O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou Ei-lo-ali. Pois o Reino de Deus está dentro de vós.”


Extraído do livro EM COMUNHÃO COM A VIDA

www.stelalecocq.blogspot.pt
 

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